26/08/2025
O divórcio, sobretudo quando litigioso, não é apenas a rutura de um casal.
Para a criança, é vivido como uma transformação radical do seu mundo interno e externo.
Aquilo que antes parecia estável, a casa, a rotina, os gestos de afeto partilhados, passa a estar marcado por tensão, incerteza e ausência.
A criança não tem ferramentas para compreender todos os motivos da separação, mas capta, de forma muito sensível, o clima emocional. Ouve as discussões, percebe os silêncios carregados, sente o olhar zangado ou a distância afetiva. Muitas vezes, acredita até que tem alguma culpa naquilo que está a acontecer.
O impacto não é apenas imediato.
A experiência pode deixar marcas duradouras na forma como a criança aprende a confiar, a sentir-se segura e a relacionar-se.
Há quem desenvolva sintomas de ansiedade, tristeza persistente, medo da perda, dificuldades de concentração, ou até comportamentos de oposição.
Outras crianças guardam tudo em silêncio, vivendo a dor de forma escondida, o que pode gerar sentimentos de culpa, vergonha ou retraimento.
Na escola, o sofrimento emocional tende a refletir-se em menor motivação, dificuldade em manter o foco, quebra no rendimento.
Nos relacionamentos, pode surgir a sensação de estar dividida entre os pais, de não pertencer inteiramente a nenhum lado, ou de ser forçada a escolher, o que aprofunda ainda mais a ferida emocional.
Mas apesar da dor, é possível reconstruir.
Se os pais conseguirem separar o conflito conjugal da função parental, a criança pode reencontrar segurança.
Duas casas podem ser também dois espaços de amor, se houver respeito e cuidado.
O essencial é preservar o vínculo, mostrar-lhe, com gestos e palavras, que continua a ser amada, que não precisa de escolher lados e que a sua vida pode, pouco a pouco, voltar a ser um lugar de confiança e esperança, mesmo em duas casas.