02/08/2025
Hoje, deixamos uma reflexão sobre parentalidade.
Muito se fala hoje em dia de parentalidade positiva. Bom, sem dúvida que parentalidade positiva trouxe-nos muito: mais escuta, menos violência, menos gritos, mais vínculo. Mas, quando é vivida como uma cartilha rígida, pode tornar-se opressiva.
Pode fazer com que os pais, no esforço de acertar sempre, se percam de si mesmos.
Mas, e se o que precisássemos fosse, simplesmente, parentalidade consciente?
Vivemos tempos em que ser mãe ou pai parece exigir um mestrado em nutrição, medicina, psicologia, pedagogia, regulação emocional e até mediação de conflitos. Tudo ao mesmo tempo!!
Há técnicas para tudo. Como responder às birras. Como evitar traumas. Como estimular o cérebro. Como gerir o sono, as refeições, os ecrãs, as emoções, os brinquedos, a linguagem, o intestino, a autoestima.
E é por isso que talvez o que mais precisamos hoje não é de uma parentalidade “perfeita”, mas de uma PARENTALIDADE CONSCIENTE!
Primeiro, e mais importante de tudo, consciente de que não existe perfeição!
De que errar é natural.
Consciente de que os pais f**am cansados, frustrados, sobrecarregados. Que às vezes não conseguem manter a calma. Que às vezes respondem mal. E que isso não os invalida como bons pais. Apenas os humaniza.
Consciente de que os pais também têm limites emocionais. Que também choram, que também se perdem, que também têm dias em que o silêncio vale mais do que a conversa.
E que educar também é dar o exemplo de saber pedir desculpa. É refazer o gesto. É crescer juntos.
Consciente de que a flexibilidade é mais importante do que a rigidez.
Que a rotina é muito importante, mas que a gerir com calma o deslize do tempo em dias complexos pode contribuir mais para o desenvolvimento emocional dos pequenos do que procurar a todo e qualquer custo manter os tempos cronometrados.
Consciente nem todos os dias se consegue jantar à mesma hora, que os legumes são importantes, mas nem sempre há legumes no prato, que nem sempre se cumpre a hora ideal para dormir — e que o mais importante não é isso.
É a segurança do vínculo. É o afeto. É a presença — mesmo imperfeita.
Consciente de que amar é também frustrar.
É dizer “não” com firmeza e consistência, mesmo quando é mais fácil ceder.
É proteger com limite. Educar com verdade.
E não, isso não tem de ser com voz doce o tempo todo. Pode ser com cansaço, com clareza, com mais firmeza, com humanidade.
Consciente de que os pais não têm de ser helicópteros.
As crianças precisam testar os seus próprios limites.
Subir à árvore. Correr no chão. Raspar o joelho. Sujar-se.
Sim, há bactérias. Mas há também sistema imunitário, autonomia, e memórias felizes que não se criam em ambientes esterilizados.
Nem tudo precisa ser supervisionado. Nem todos os erros precisam ser evitados.
Conscientes que podem ler todos os livros e ouvir todos os podcasts sobre parentalidade,mas que cada criança é única e traz desafios singulares, por isso, não há nenhum manual específico para lidar com cada filho. E por isso, nunca nenhuns pais estão 100% preparados para cada filho.... A única coisa que os vai preparando é a presença e os erros que ensinam mais que qualquer manual.
Conscientes que as crianças não têm um botão de on/off e não f**am quietos quando queremos. Elas têm milhões de neurónios a fervilhar à espera de se diferenciarem. Por isso, é natural as crianças serem inquietas, barulhentas, questionadoras e testarem os limites ao máximo. Elas precisam de regras e limites consistentes... Mas precisam também de espaço e segurança para explorar o mundo que as rodeia. Mas este equilíbrio pode ser muito difícil.
Consciente de que os ecrãs estão por todo o lado — mas que um ecrã com letras e números não educa mais do que pés descalços na terra.
Consciente de que brincar na lama, correr atrás de uma bola, escorregar numa pedra, aprender a cair e levantar são aprendizagens tão importantes quanto contar até dez.
Mas também consciente de que, sim, dançarem todos juntos, o “Panda é Fixe” pode trazer gargalhadas que unem.
E que, em certos dias — nos dias em que tudo falha, em que os pais estão esgotados, em que não há mais um pingo de energia — o ecrã pode ser a salvação.
Não são os momentos pontuais que constroem a infância, mas o clima afetivo que se repete, dia após dia.
Consciente de que falar de forma rica com os filhos é importante, sim — mas que, às vezes, vamos também falar como eles, rir com as suas palavras inventadas, entrar no seu mundo. E está tudo certo.
Isso também é linguagem e comunicação. Isso também é vínculo.
Conscientes que é ótimo ter acesso à informação, mas que não devem deixar de confiar na sua intuição e não precisam de perguntar tudo ao Chat GPT, porque a parentalidade é algo demasiado precioso para ser guiado por robôs IA. Conscientes que mais vale uma parentalidade imperfeita cheia de amor, que uma parentalidade artificial.
Consciente de que os avós são de outra geração, com erros, sim — mas também com um amor que não se mede.
E que a intergeracionalidade é mais valiosa para o desenvolvimento das crianças do que a obediência cega a cada regra dos pais.
Porque os avós representam história, continuidade, um tipo de ternura que não vem com manuais. E às vezes vão dar doces às escondidas. E às vezes vão fazer as vontades que os pais disseram que não.
E está tudo certo. Porque amor também é isto: variação, diferença, tolerância.
Consciente de que os pais não precisam de ser tudo.
Só precisam de ser reais.
E disponíveis o suficiente.
Presentes na imperfeição.
Capazes de amar, mesmo sem saber sempre o que fazer.
Porque no fim, mais do que uma parentalidade positiva, precisamos de uma parentalidade com espaço para a verdade.
E a verdade é esta:
Os pais não são máquinas, são pessoas, e os filhos também!
Educar é realmente um processo complexo e muito, muito desafiante.Mas se houver amor, presença, consciência e sobretudo AMOR— estamos, todos, no caminho certo.
Cria novas Psibilidades para a tua vida.