23/10/2025
- Não tinha ninguém para cuidar de mim.
A frase é lancinante. Ouvi-a numa reportagem televisiva.
Saiu da boca de uma refugiada Sudanesa que durante meses foi torturada e violada pelos seus sequestradores.
As palavras que esta jovem disse doem, são marcantes, cicatrizam. A expressão da sua cara invadiu-me num Domingo à tarde, capturou-me.
Senti-me pequeno perante o terror que era visível no seu olhar distante, impenetrável. Um olhar que atinge o olhar, de íris dilatadas, acutilante. Um olhar que grita em silêncio entre as palavras pronunciadas.
A sua infância roubada, o passado conspurcado, a inocência manchada para sempre pelo sangue dos fantasmas que a perseguem nos sonhos- a linha do tempo alterada a partir daquele momento.
Quem poderia ter sido esta jovem se nada disto tivesse acontecido?
Nunca saberemos. O que sabemos é que fugiu dos seus opressores, que o medo não a deteve, e que apesar de tudo, ainda sente a força do perfume do futuro, e a coragem é guardiã dos seus sonhos.
Não havia ninguém para cuidar dela, a não ser ela. Bastou-se nos momentos em que o resto da humanidade falhou.
P.S. Escrito depois de ver uma reportagem da Sky News sobre a crise humanitária no Sudão