26/02/2025
Dizia-me, num dia destes, uma professora que se torna muito difícil gerir o modo explosivo como as crianças reagem sempre que se sentem frustradas. Querendo dizer que elas expressam muita raiva. A ponto dela, num dias destes, ter precisado de levantar a voz para um dos seus alunos, exigindo que a escutasse. Mas, acto contínuo, este rapaz virou-se para ela e, com um furor vindo de lá do fundo, disse-lhe: “Odeio-te!”.
No dia a seguir, este menino chegou-se, subtilmente, ao pé dela e tentou abraçá-la. De surpresa. Ela não aceitou. Perguntou-lhe se ele se lembrava daquilo que lhe tinha dito. E confidenciou-lhe que estava muito magoada com ele. (Afinal, ela só queria - muito! - que ele gostasse dela.)
Enquanto a ouvia, estava a dar-me conta que este escolheu aquele abraço para lhe pedir desculpa, pelo “odeio-te!”. E, de certa maneira, para lhe agradecer a forma como aquela professora não desistiu de se fazer escutar.
Já sei, pelo esgar que fez, que eu não estive bem. Não foi?… - comentou ela, falando para mim.
Eu acho que acho que, em cada escola, devia existir um outdoor, à entrada, desafiando cada aluno para qualquer coisa como: “Já descobriste qual foi o teu melhor erro, de hoje?”. Porque se os nossos filhos destrinçarem os erros intuem sobre aquilo que aprendem. Logo, quando aquela professora ganhou a coragem de dividir aquele episódio connosco, estava claro que ela já tinha descoberto o seu erro da véspera.
E foi ai que lhe sugeri que, no dia seguinte, mal as crianças estivessem no bulício do costume, antes de começar a aula, ela olhasse o rapaz e lhe pedisse para que ele viesse até ela. E lhe perguntasse se ela ainda iria a tempo do abraço que ele lhe tinha proposto. Aposto que aquele menino jamais se esquecerá daquele abraço. E dela, claro. Enquanto aquela professora passará a guardar dentro de si, para sempre, esta criança como alguém que a ensinou a aproveitar um erro. A vencer o medo de pensar melhor sobre uma coisa, acrescentando sabedoria a uma reacção impulsiva. A descobrir, também, que aprender é co-mover. E que não há quem aprenda connosco sem que aprendamos consigo, também. Aprender é sempre um desafio à gratidão.