
24/09/2025
É urgente refletir sobre isto e deixar os educadores de infância fazer o seu trabalho de educador de infância ❤️
Há crianças que chegam ao 1.º ano sem saber segurar bem no lápis. É verdade. Mas antes de apontar o dedo aos educadores de infância, como ouvi, convém olhar para os verdadeiros responsáveis por este fenómeno: as mudanças profundas no estilo de vida das crianças, a crescente permissividade parental e o abuso de ecrãs desde idades ridiculamente precoces.
Vamos aos factos…
Nunca tivemos tantas crianças com dificuldades em agarrar, recortar, desenhar ou regular a força da mão.
E nunca tivemos tantas crianças a passar horas coladas a tablets e telemóveis, com o polegar a deslizar para cima antes sequer de conseguirem usar bem os dedos em pinça.
A motricidade fina, aquela que permite segurar um lápis com precisão, não nasce por magia!
Constrói-se.
E constrói-se com plasticina, com blocos, com areia, com tesouras, com legos, com barro…
Constrói-se com corpo, com tempo, com liberdade e com frustração. Tudo aquilo que muitos pais (bem-intencionados, mas permissivos) estão a evitar,… porque “dá trabalho “, ou o “menino não quer”.
Hoje temos pais que preferem dar um tablet para “acalmar”, em vez de dar uma caixa de lápis.
Temos casas onde se grita menos do que se cede. Onde a criança manda mais do que experimenta. Onde brincar no chão suja, e por isso não se faz.
E depois, quando a criança chega ao 1.º ano sem saber segurar no lápis, a culpa… é do jardim de infância?
Errado. Claramente errado.
A função da educação pré-escolar não é preparar para o 1.º ciclo. 
Não é treinar caligrafia nem ensinar a escrever o nome. É ajudar a crescer por dentro. A ser autónomo. A saber esperar. A lidar com o outro. A brincar com sentido. A desenvolver competências que são prévias, fundadoras, estruturantes.
Transferir para os educadores de infância a responsabilidade de corrigir o que está a falhar em casa (sono desregulado, pouca exigência, excesso de ecrãs, ausência de experiências ricas), é um abuso e um erro.
Mais ainda: esperar que o jardim de infância “adivinhe” o que o primeiro ciclo “vai exigir” e se adapte, é inverter a lógica do sistema.
A escola é que tem de se adaptar à infância, e não o contrário.
Alfredo Leite