29/05/2025
O dia em que a minha filha me ensinou a perder o controlo
Era uma 2.ª feira como tantas outras. Daquelas em que acordamos atrasados, tomamos o pequeno-almoço de pé e entornamos café na camisa branca. O dia começou com pressa, daqueles em que tentamos agarrar o tempo como se ele fosse areia a escapar-nos por entre os dedos.
No carro, o trânsito parecia querer dar-me uma lição de paciência... com muito pouca paciência. Estava irritado. Aflito. Cheio de coisas na cabeça. Até que, no banco de trás, a minha filha — então com apenas 5 anos de experiência neste planeta — me disse:
— Papá, olha aquele passarinho! Parece tão feliz.
Confesso que a minha primeira vontade foi soltar um “pois é, filha”, só para despachar. Mas olhei. Lá estava ele. Um passarinho mesmo, empoleirado no poste, a cantar como se o céu não estivesse assim tão cinzento como o meu humor.
Respirei fundo. Continuava atrasado, mas agora a respirar melhor.
Chegámos à escola e ela demorou-se a sair do carro. Quis mostrar-me um desenho que tinha feito no dia anterior. Um unicórnio com asas de dragão. E um coração enorme no canto da folha. "Este é para ti, papá."
Atrasei-me mais cinco minutos. Mas ganhei um desenho, um coração e uma lição sobre o que realmente interessa.
A verdade é que passamos metade do tempo a tentar controlar o mundo e a outra metade irritados porque o mundo não nos faz a vontade.
Enquanto isso, os nossos filhos dançam pela sala como se ninguém estivesse a ver, fazem desenhos maravilhosos a que ninguém liga, marcam golos incríveis a que ninguém dá importância. E ensinam-nos — com a leveza que só as crianças têm — que a vida não é para controlar, é para viver.
E às vezes viver é parar o carro, olhar para o passarinho, guardar o desenho... e, por breves instantes, perder o controlo.
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