11/11/2025
Não comece achando que “luto é só uma tristeza profunda”. Isso é simplificação confortável. O luto é uma experiência que reorganiza o cérebro. Não é apenas sentir. É reaprender a existir em um mundo onde algo ou alguém essencial não está mais. E isso não acontece porque você é fraco ou dramático. Acontece porque o cérebro era moldado pela presença que se perdeu. Quando essa presença desaparece, o sistema inteiro tenta entender como seguir funcionando.
Durante o luto, regiões ligadas à memória, apego, alerta e regulação emocional passam por uma reconfiguração intensa. É comum sentir confusão, desorientação e até dificuldade de tomar decisões simples. Isso não é “falta de controle”. É o cérebro tentando reconectar pontos que antes estavam claros.
O luto também mexe na forma como o corpo se organiza. Sono pode ficar instável. Apetite muda. Energia oscila. Você pode sentir um cansaço que parece não ter origem física. E é real: o cérebro em adaptação consome enormes recursos. O que muita gente chama de “preguiça” é, na verdade, reconstrução neurológica.
Outro ponto que quase ninguém fala: o cérebro registra a perda como ameaça. Não porque o que aconteceu é um perigo contínuo, mas porque a ruptura do vínculo ativa o sistema de sobrevivência. Por isso, medo e angústia aparecem, às vezes, sem motivo aparente. O corpo tenta garantir que você não sofra outro impacto do mesmo tamanho. É como se ele dissesse: “não solta mais nada, segura tudo”.
E é justamente aqui que muitas pessoas se cobram para reagir rápido demais. Querem “voltar a ser quem eram”. Mas isso é impossível. O luto não é sobre retornar ao que havia antes. É sobre se tornar alguém que carrega a ausência, sem se dissolver nela.
Não existe tempo certo. Não existe fórmula. Não existe comparação válida entre dois lutos. Cada história de amor, convivência, presença e significado é única, então a forma como o cérebro responde também será.
O que ajuda:
Falar, mesmo quando a voz falha.
Se permitir sentir, mesmo quando é desconfortável.
Criar novos rituais que lembrem que a vida continua, sem apagar o que houve.
Não buscar “substituir” o que se foi, e sim honrar.