11/11/2025
Pura verdade
Todas as crianças são intensas sempre que as deixamos- intensamente! - ser crianças.
O que faz com que elas sejam vivíssimas e astutas. “Malandras” e despachadas. Cheias de ternura e com pitadas de “mau feitio”. Curiosas e brincalhonas. E com “pilhas da Duracell”; da manhã até á noite.
No dialecto que as mães partilham entre si, as crianças intensas são descritas como “enérgicas”. Ou “cheias de personalidade” (o que, como se sabe, é uma forma mais urbana de reconhecerem que são teimosas ou um tudo-nada “mal educadas”).
Mas, a mim, preocupa-me que, sob a designação de crianças intensas, haja quem descreva crianças altamente sensíveis (como se todas as crianças não tivessem uma sensibilidade intensamente educada). E crianças hiperactivas ou impulsivas. Crianças com “síndrome de oposição” ou com “desregulação emocional”. Isto é, preocupa-me que uma criança intensa, só porque a deixamos ser criança (intensamente!), esteja cercada de “diagnósticos” de circunstância, como se isso dela ser criança não fosse saudável.
Mas, afinal, o que se espera duma criança que seja criança: uma linha de água? Alguém calado e sossegadinho? A miniatura atilada de um adulto? Não pode uma criança ser sensível, delicada e exagerada? Respondona, barulhenta e esparvoada? Teimosa, birrenta ou enxofrada? Mexida, cheia de genica mas capaz de gostar intensamente como mais ninguém?
Quem ganha com estes “diagnósticos” onde cabem todas todas crianças saudáveis? Quem ganha com esta espécie de “psicologia fast food” dos posts ou dos tutoriais, que o melhor que fazem é encher os pais de culpa e levá-los a recearem não ser tecnocratas da educação? Já repararam que, quanto mais eles são esclarecidos, mais parecem ser pais tomados pelo medo de errar ou de traumatizar? E se, afinal, fossemos melhores pais do que supomos ser?
Desculpem, mas, às vezes, apetecia-me que os pais se libertassem destas amarras e reabilitassem o seu sexto sentido, escutassem a sua enorme sensatez e perdessem o medo de ousar educar com verdade, com erros e com alma. Será que não reparam que só os pais intensos no seu amor de pais é que educam crianças intensas, só porque as deixamos ser - intensamente! - crianças?