03/05/2019
Até que a morte nos separe...
Parece que hoje em dia essa “promessa” está cada vez mais questionável e distante. Manter um relacionamento duradouro e feliz parece ser um dos grandes objetivos do ser humano. Antes, nos tempos dos nossos avós, os casamentos eram duradouros, porém não se tinha muita escolha, mesmo que não tivesse alegria (felicidade) era uma questão social fazer “sacrifícios”para cumprir o destino. Hoje, porém, vivemos num mundo, onde a democracia, a opção de escolhas é valorizada e aceita. Querer ou não ficar com alguém é “normal”. Em contrapartida, o número de separações cresceu. Parece que a “busca dos desejos” intensificou-se entre as pessoas .
O problema é que o sujeito busca no outro o que lhe falta, sem querer se dar conta das suas faltas, propriamente dita e no relacionamento a dois essa falta aparece por todos os lados.
Amar e ser amado, dividindo espaços físicos, tempo, desejos, frustrações... fazem surgir no sujeito sentimentos variados e até contraditórios. Passado os primeiros “meses” de paixão, um momento de muitos sonhos/projeções, onde acredita-se que o outro está completando-o, parecendo que “nada falta”, muitas visões sobre o casamento começam a mudar.No amor como paixão,a predominância é do imaginário. O apaixonado quer colamento,pois acredita que pela via do amor, vai completá-lo, suprir suas faltas. Porém, quando a fase do encantamento/paixão acaba, passa-se a ver o outro como ele o realmente é, ou seja, ele não é aquele que vai tamponar as suas faltas .
Quem ama , fantasia que o amado tem algo que lhe falta, enquanto o amado que ocupa o lugar do objeto, ele tem muitas coisas, menos o que lhe falta no outro porque também lhe falta algo. E se não tomar cuidado vira um ciclo vicioso,onde um procura no outro o que lhe falta e ocupando ao mesmo tempo,na relação,os dois lugares ( o amante – sujeito/falta/desejante x amado – objeto/ter/desejado.
A ideia do casamento eterno ( até que a morte nos separe...) deu lugar para : “ Que seja eterno enquanto dure...” Já existem lugares(outros países) que acreditam em prazo de validade/ nos relacionamentos.Porém, isso não quer dizer que o desejo de ter um companheiro ou o romantismo tenha acabado,apenas mudou de “posição”, dando lugar à “correr atrás do companheiro(a) que lhe faça feliz. Em contrapartida, a cada separação de casais escutamos uma dualidade de sentimentos: “ A fila anda!” ou “ Tão cedo não me envolvo com alguém!” Uma ambivalência de afetos,que pode ser atenuada pela via da sublimação. Todo amor é narcísico e ambivalente. O ódio se constitui antes do amor. Porém é uma paixão tão intensa quanto o amor.
São frequentes os pedidos de ajuda terapêutica das pessoas que se sentem incapazes de fazer escolhas “certas”,atendendo os seus “desejos reais”,ou seja ,uma busca de autoconhecimento para não repetir os mesmos erros em outra relação. A consciência de que “algo está em mim” e não no outro como eu pensava, começa a surgir em algumas pessoas depois de um determinado tempo.
Muitas vezes, o distanciamento entre o casal resulta da incapacidade do mesmo para resolver esses conflitos.
Quando o sujeito chega no consultório é muito comum escutarmos: “ Ele mudou tão de repente! Parece outra pessoa” / “Ele(a) não me comunica mais nada! Quer ter liberdade como se fosse solteiro(a)!” / “ Parece que quer ser outra pessoa” / “Sinto falta de algo diferente! De uma emoção diferente!” /”Ele(a) não me acompanha mais! Os nossos desejos são diferentes!” /”Tenho um(a) amante porque preciso viver o que não vivo com ele(a)!”
Na verdade,,existem escolhas/desejos que um quer impor ao outro, tornando-se situações bem complexas. A necessidade de liberdade se choca com a necessidade de segurança do outro.
As pesquisas mostram que o número de divórcio vem crescendo entre os casais, assim como cresce o número de casais que procuram terapia de casal ou até mesmo
individual com o objetivo de entender o que está acontecendo no seu casamento, onde, muitas vezes, o vínculo amoroso está no final.
Quando o casal tem filhos, estes acabam sofrendo junto com seus pais , pois percebem que algo não está bem , e normalmente, sofrem caladas , alimentando alguns fantasmas a respeito de seus pais.
As crianças ficam atentas e são sensíveis ao estado emocional de seus pais e se estes não estão vivendo bem , as crianças acabam sofrendo com isso e demonstram, através de sintomas que aparecem no convívio familiar , com coleguinhas, na escola e etc.
A forma de relação que o casal vive, implica diretamente no desenvolvimento emocional da criança.
Andrea Passos – Psicóloga Clínica com Especialização em Psicanálise Clínica e Institucional
Até que a morte nos separe...