15/09/2024
Último acto... Cai o Pano
Hoje chega ao fim uma etapa significativa da minha vida, uma fase que foi fonte de incontáveis aprendizagens, de enriquecimento mútuo e de partilhas que transcenderam o simples acto de aconselhar ou orientar. Ao longo deste percurso, fui privilegiado por ter cruzado caminhos com tantas almas, cada uma trazendo consigo a sua dor, a sua história e a sua procura por entendimento, conforto e alívio. Foi nesta troca de experiências que descobri, dia após dia, o verdadeiro sentido de servir: ajudar os outros a ajudar-se a si mesmos. E, agora, termino este ciclo com a serenidade de quem sabe ter cumprido a sua missão, consciente de que cada gesto, cada palavra e cada momento de apoio deixaram marcas de transformação, tanto neles quanto em mim.
Ao longo da vida, somos frequentemente confrontados com desafios que nos testam, que colocam à prova a nossa resiliência, fé e humanidade. Porém, são nesses momentos que, se estivermos atentos e abertos ao que o universo nos reserva, surgem as maiores oportunidades de crescimento espiritual. É neste contraste entre a luz e a sombra que a alma se ilumina. Olho agora para trás e percebo que, por mais difíceis que tenham sido as turbulências, foi através delas que me tornei quem sou. A espiritualidade, essa força invisível que nos guia, ajudou-me a encontrar sentido até nas provas mais duras, permitindo-me abraçar a ideia de que todos nós fazemos parte de algo maior. Sinto-me, assim, uma partícula pequena, mas essencial, no vasto universo, consciente da interconexão entre todos os seres, e grato por essa luz que me guiou até aqui e que continua a iluminar o caminho que ainda tenho de percorrer.
Com esta compreensão, lanço o olhar para o futuro. Embora esta fase se encerre, estou profundamente consciente de que o fim de um ciclo é apenas o início de outro. O que deixo para trás não é um abandono ou um distanciamento, mas um renascimento. É o florescer de um novo "EU", que se propõe a enfrentar novos desafios, a explorar outras formas de ser e de estar no mundo. Com a alma renovada e os olhos postos num horizonte de possibilidades, sinto-me preparado para desbravar os caminhos que a vida ainda tem para me oferecer. Pois a vida, se lhe permitirmos, está sempre pronta a surpreender-nos, a ensinar-nos lições inesperadas e a revelar-nos facetas nossas que desconhecíamos.
A todos os que me procuraram, a minha mais sincera gratidão. Cada pessoa que cruzou o meu caminho trouxe consigo não apenas a sua dor ou as suas angústias, mas também uma oportunidade de crescimento para mim. Cada história que me foi contada, cada lágrima que foi vertida e cada sorriso que emergiu no final da jornada contribuiu para o meu próprio processo de evolução. Acompanhar essas transformações foi um privilégio indescritível, e nada me enche mais o coração do que ter testemunhado o brilho de esperança nos olhos daqueles que, antes, estavam tomados pela incerteza e pelo sofrimento. Foram esses momentos, verdadeiramente humanos, que me deram a certeza de que o meu papel foi cumprido.
Com humildade, agradeço a confiança que tantos depositaram em mim. Não foi apenas uma relação de serviço, mas uma profunda conexão humana, que me permitiu sentir a dimensão do impacto que cada um de nós pode ter na vida do outro. É essa a verdadeira magia da existência: a capacidade de, através do cuidado, da escuta e do apoio mútuo, construirmos pontes de esperança e de transformação.
Agora, ao encerrar este ciclo, não viro as costas ao que foi, nem dou por encerrado o meu percurso. Pelo contrário, vejo-me como um ser em constante metamorfose, que se reinventa a cada fase, a cada desafio, a cada nova descoberta. Este é o momento de abrir os braços ao desconhecido, de me deixar surpreender por tudo aquilo que a vida ainda tem para me oferecer. E com essa abertura, levo comigo a missão de continuar a evoluir, a ser melhor, a espalhar a luz que um dia recebi.
A todos, mais uma vez, a minha profunda gratidão.
A. F. Castro Dias