16/01/2025
{𝘴𝘰𝘣𝘳𝘦 𝘰 𝘮𝘦𝘴𝘵𝘳𝘦 𝘲𝘶𝘦 é 𝘰 𝘴𝘪𝘭ê𝘯𝘤𝘪𝘰}
Era uma vez uma consulta onde estive 40 minutos em silêncio. O relógio na parede avançava, mas ali parecia não existir espaço nem tempo.
Não havia palavras, mas havia muito a acontecer. Para mim foi desconfortável, inicialmente, já tinha participado em alguns silêncios, mas nenhum como este. Não era vazio — muito pelo contrário. Estava carregado. De perguntas que não encontravam voz, de dores antigas que tentavam emergir mas hesitavam, de histórias que aguardavam o momento certo para serem contadas.
Quando percebi que estava diante de uma oportunidade, o meu corpo descontraiu. Deixei o pensamento fluir. Preparei um copo de água para a pessoa que estava à minha frente e um para mim. Olhei para o quadro do gabinete, para as linhas do tapete, para as mãos entrelaçadas no colo — para o nada e para o tudo. Devagar, a pessoa encostou-se mais no sofá. Olhava para mim. E eu para ela.
Era um silêncio duro, que respeitei, e que me ensinou sobre o meu lugar naquela sala. Não falei — não porque não soubesse o que dizer, mas porque sabia que o silêncio era o que precisava de ser dito. Não era o momento para a minha voz, mas para a minha presença. Houve tanta coisa a acontecer naqueles minutos mas não há forma de o descrever, pois não foi no âmbito do verbal que estivemos.
5 minutos antes do final da sessão, aquela pessoa que senti tão perto de mim sem dizer uma única palavra, disse baixinho: "Obrigada."
"Aqui estarei sempre"
Um reconhecimento profundo. Os motivos só a nós dizem respeito, mas uma coisa posso partilhar convosco: às vezes, estamos tão preocupados com o que vamos dizer na consulta, o que vamos contar, que pensamentos tivemos, que esquecemos o mais importante.
Estarmos, "só".
- alguns detalhes desta história real foram modif**ados, nunca será partilhado um caso a 100% aqui pois para isso tenho outros espaços. Espero que tenha sido claro que vir com a "sessão estudada" não te leva ao sítio onde podes querer ir 🌱