19/11/2025
Há crianças que se irritam de forma explosiva quando são contrariadas: quando o adulto diz “não”, quando algo termina antes do previsto, quando perdem um jogo,
quando não ficam em primeiro, ou quando simplesmente não conseguem o que desejavam.
Essas reações não são sinal de falta de educação, manipulação ou desafio deliberado.
São sinais de imaturidade neurológica e emocional.
O cérebro ainda não tem capacidade plena para lidar com frustração, para modular impulsos ou para reorganizar o corpo depois de uma perda.
Por isso a reação é intensa.
E é aqui que entra a parte mais difícil para qualquer adulto:
a criança irrita-se precisamente com quem é mais seguro para ela. É com o pai, a mãe, o cuidador, familiar próximo,
porque é aí que ela pode expressar o que não consegue controlar.
Isto não é contra o adulto.
É a forma mais primária de procurar regulação: descarregar onde há estabilidade.
É desconfortável, mas é desenvolvimento puro.
Quando o adulto responde com irritação, ironia, “agora aguenta” ou “bem feita”, não há reorganização interna possível.
Há escalada.
Há aumento da tensão.
E a criança perde a referência que lhe permite voltar ao equilíbrio.
Quando o adulto mantém o corpo regulado (respiração calma, tom estável, limites claros mas firmes) o sistema nervoso da criança tem hipótese de se reorganizar.
É assim que ela aprende autorregulação: primeiro por coregulação.
A criança precisa de alguém que aguente a irritação sem devolver.
Que tolere o impacto emocional sem personalizar.
Que perceba que a irritação não é oposição, é incapacidade temporária de gerir aquilo que sente.
E depois, quando a descarga termina,
a maioria das crianças faz o mesmo:
aproxima-se.
Procura o adulto.
Encosta-se.
F**a por perto.
Como se dissesse sem palavras:
“Agora preciso de voltar ao meu ponto de segurança.”
Não há desenvolvimento emocional sem isto.
Não há maturidade que apareça espontaneamente.
Há aprendizagem progressiva, através do corpo de um adulto disponível e regulado.
A criança pode zangar-se contigo.
Mas VOLTA, porque tu ÉS ESSENCIAL