Virgílio Baltasar_Psicólogo Clínico

Virgílio Baltasar_Psicólogo Clínico Psicologia Clínica; Neuropsicologia; a partir dos 10 anos. CP OPP: 018579. Grupo HPA de VRSA: 281530160

Métodos de intervenção psicológica: Psicoterapia EMDR, Psicoterapia Assistida por Neurofeedback Clínico, Fotobiomodulação Transcraniana.

➡️Homens maus fazem o que os homens bons sonham✔️Todos temos um lado sombrioÉ natural pensarmos que há uma linha clara e...
23/09/2025

➡️Homens maus fazem o que os homens bons sonham

✔️Todos temos um lado sombrio

É natural pensarmos que há uma linha clara entre as “boas pessoas” e as “más pessoas”. No entanto, a experiência clínica e forense mostra que essa separação não é tão simples. Todos nós carregamos dentro de nós impulsos agressivos, hostis ou egoístas.
Este lado sombrio pode ter raízes biológicas — por exemplo, na forma como o nosso cérebro regula substâncias químicas ligadas à agressividade — e também sociais, relacionadas com a educação, as experiências traumáticas ou as pressões da vida em sociedade.

Na maioria das vezes, conseguimos controlar ou canalizar estes impulsos para formas construtivas: através do desporto, da arte, do humor, ou até em pequenas fantasias que nunca passam à ação. Mas em situações de crise, de ausência de regras, ou quando há falhas graves no desenvolvimento, esse lado pode manifestar-se de forma perigosa.

Simon resume esta ideia numa frase poderosa:

“Os homens maus fazem aquilo que os homens bons apenas sonham em fazer.”
(Simon, 2008, p. 3)

✔️Será que temos controlo sobre quem somos?

Uma das reflexões mais desconfortáveis de Simon é que não temos o controlo absoluto sobre a nossa vida.
Grande parte das nossas ações e escolhas é influenciada por forças inconscientes que não dominamos. Freud já tinha sublinhado este ponto: acreditamos ser racionais, mas, muitas vezes, estamos a seguir desejos e impulsos que mal reconhecemos.

Além disso, o contexto pode mudar tudo. Pessoas que parecem calmas e controladas podem, em situações de guerra, catástrofe ou multidões violentas, agir de forma brutal. Como se uma parte mais primitiva assumisse o comando.

E há ainda a dimensão biológica: vulnerabilidades genéticas, desequilíbrios químicos ou lesões cerebrais podem reduzir a nossa capacidade de autocontrolo.
Em suma, não escolhemos totalmente quem somos nem o que sentimos. Mas temos responsabilidade individual e societal sobre o que fazemos com isso.

✔️Se aceitarmos que todos temos dentro de nós luz e sombra, isso muda a forma como olhamos para várias dimensões da vida social.

1. O ser humano comum
Deixamos de idealizar que existem pessoas totalmente boas e outras totalmente más. Reconhecemos que qualquer um pode, em determinadas circunstâncias, ceder a impulsos destrutivos. Isto torna-nos mais humildes e também mais empáticos: em vez de projetarmos o “mal” apenas nos outros, olhamos para dentro e percebemos que partilhamos a mesma condição humana.

2. O ser humano violento ou “mau”
Quando alguém comete um crime violento, é fácil rotulá-lo de “monstro”. Mas essa explicação simples impede-nos de compreender as causas. Simon lembra que nem sempre se trata de uma doença mental diagnosticável — muitas pessoas que cometem atrocidades são avaliadas como “normais” pelos critérios clínicos.
No entanto, isso não significa que estejam bem. A violência é sempre um sinal de falha: uma falha de empatia, de autocontrolo ou de relação com os outros. Algo correu mal na forma como essa pessoa lida com os próprios impulsos e com a vida em sociedade. Algo correu mal no seu desenvolvimento enquanto ser humano e sobre o qual não tem controlo.

3. A doença mental e os tratamentos
Aqui está o ponto delicado: nem toda a violência é fruto de doença mental formalmente reconhecida, mas toda violência aponta para sofrimento, distorção ou desorganização na vida psíquica.
O tratamento psicológico e psiquiátrico, quando possível, ajuda justamente a dar nome a esses conflitos internos, a contê-los e a transformá-los. O objetivo não é eliminar o lado sombrio, mas integrá-lo de modo que não se traduza em destruição.

4. A justiça e as suas implicações
Se todos temos um lado sombrio, a justiça não pode limitar-se a punir. Ela deve também proteger a sociedade e, quando possível, oferecer caminhos de reabilitação. Mas há uma tensão inevitável: quando a sociedade decide se alguém é “louco” (e precisa de tratamento) ou “mau” (e precisa de punição).
O caso de Jeffrey Dahmer ilustra este dilema: alguns especialistas diziam que sofria de doença mental, outros que era plenamente responsável. O tribunal optou pela punição. A questão mostra como é difícil separar a “maldade” da “loucura”, e como a justiça navega entre compreender, proteger e castigar.

Em síntese

Aceitar que todos temos um lado sombrio não é um convite ao pessimismo, mas à responsabilidade. A violência, seja ela qual for, é sempre um sinal de que algo não está bem. O perigo maior não está em reconhecer esse lado, mas em negá-lo — porque o que é negado tende a emergir de forma descontrolada.
Se conseguirmos olhar para dentro com honestidade, podemos transformar os nossos impulsos mais sombrios em criatividade, empatia e crescimento, enquanto seres humanos e sociedade.

E talvez a lição mais importante seja esta: por trás de cada pessoa existe uma história. Respeitar essa história — mesmo quando não a compreendemos — é um passo essencial para construir uma sociedade menos violenta e mais humana.

Referência

Simon, R. I. (2008). Bad men do what good men dream: A forensic psychiatrist illuminates the darker side of human behavior (Rev. ed.). American Psychiatric Publishing.

Psicoterapia assistida por Neurofeedback: uma nova forma de tratar o trauma psicológico e as perturbações mentais➡️O que...
20/09/2025

Psicoterapia assistida por Neurofeedback: uma nova forma de tratar o trauma psicológico e as perturbações mentais

➡️O que é a psicoterapia assistida por Neurofeedback?

A psicoterapia assistida por Neurofeedback é uma forma inovadora de tratamento psicológico que combina as técnicas da psicoterapia tradicional com um método de treino cerebral baseado em neurociência. O neurofeedback consiste em registar a atividade elétrica do cérebro através de elétrodos colocados no couro cabeludo e, em tempo real, dar ao paciente um retorno dessa atividade sob a forma de imagens, sons ou vídeos. Este processo permite ao cérebro aprender a autorregular-se, reduzindo padrões de funcionamento desadaptativos e promovendo maior equilíbrio emocional, cognitivo e fisiológico (Enriquez-Geppert, Huster, & Herrmann, 2017; Marzbani, Marateb, & Mansourian, 2016; Sitaram et al., 2017).

É importante sublinhar que a psicoterapia assistida por neurofeedback não é um tratamento isolado, mas sim integrado em qualquer escola de psicoterapia (por exemplo, cognitivo-comportamental, psicodinâmica, humanista ou integrativa), bem como numa relação psicoterapêutica, sendo fundamental que o psicólogo clínico domine o campo da psicotraumatologia, dado que a maioria das perturbações mentais tem ligação direta com experiências adversas e traumáticas (van der Kolk, 2014; Fisher, 2014; Corrigan & Hull, 2015).

➡️Tipos de Neurofeedback clínico

Existem várias modalidades de neurofeedback clínico, mas as duas principais são:
1. Neurofeedback diretivo – também conhecido como neurofeedback guiado por QEEG (eletroencefalograma quantitativo). Este tipo de neurofeedback trabalha com frequências acima de 0,5 Hz, que incluem as ondas cerebrais convencionais (delta, teta, alfa, beta e gama). O psicólogo analisa padrões cerebrais específicos que se encontram desregulados e define protocolos de treino com base nesses mapas, aplicando protocolos de inibição ou de reforço de determinadas frequências (Kropotov, 2016; Enriquez-Geppert et al., 2017).
2. Neurofeedback não diretivo – também chamado neurofeedback com frequências infrabaixas ou infralentas (InfraSlow Neurofeedback). Este tipo de treino não depende da análise QEEG, mas atua em frequências fundamentais do cérebro (

🧬🌱 Genes e Trauma: duas formas diferentes de adoecer mentalmenteQuando falamos de saúde mental, muitas pessoas acreditam...
18/09/2025

🧬🌱 Genes e Trauma: duas formas diferentes de adoecer mentalmente

Quando falamos de saúde mental, muitas pessoas acreditam que só adoece quem “já nasceu com tendência” e passou por experiências difíceis.
A ciência mostra algo mais surpreendente: há casos em que apenas os genes são suficientes para causar doença e há casos em que apenas o trauma é suficiente.
E, na maior parte das vezes, é a combinação dos dois que explica por que motivo algumas pessoas ficam doentes e outras não.

1. Quando o trauma psicológico , por si só, basta

Os estudos mais rigorosos foram feitos com gémeos idênticos (quase cópias genéticas perfeitas).
👉 Quando só um gémeo passou por abuso ou negligência, esse irmão desenvolveu muito mais facilmente depressão, ansiedade, perturbações alimentares, abuso de substâncias ou stress pós-traumático (PTSD) do que o irmão não exposto (Brown et al., 2014; Cath et al., 2008; Ouellet-Morin et al., 2011). Como ambos tinham praticamente o mesmo ADN, a diferença só pode ser explicada pelo trauma.

Outros estudos usam te**es genéticos modernos (Polygenic Risk Scores, que medem milhares de variantes genéticas de risco).
👉 Mesmo pessoas com risco genético muito baixo desenvolveram depressão ou PTSD quando tinham vivido experiências adversas graves (Peyrot et al., 2014; Mullins et al., 2016; Stein et al., 2023).

Em resumo: o trauma, por si só, pode alterar o cérebro, o corpo e a mente de tal forma que leva ao adoecimento — mesmo em quem não herdou vulnerabilidades genéticas (Gilbertson et al., 2002; Bremner et al., 2020).

2. Quando os genes, por si só, bastam

Também existem doenças em que a genética tem um peso enorme.
👉 Nos gémeos idênticos, se um tem esquizofrenia, o outro tem quase 50% de probabilidade de também a desenvolver, mesmo sem grandes traumas (Sullivan et al., 2003).
👉 No autismo, a taxa de concordância entre gémeos idênticos chega a 70–90%, contra menos de 30% nos gémeos não idênticos (Tick et al., 2016).
👉 Algumas mutações raras (como a deleção 22q11.2, ou alterações em genes como SHANK3 e SCN2A) podem, por si só, causar autismo, epilepsia ou psicose, independentemente do ambiente (McDonald-McGinn et al., 2015; Sebat et al., 2007; Satterstrom et al., 2020).

Nestes casos, mesmo em famílias protetoras e sem adversidades, a doença pode surgir devido apenas à carga genética.

3. O cenário mais comum: a interação

Na maioria das pessoas, o que acontece é uma dança entre genes e experiências.
• A genética pode tornar alguém mais sensível ao stresse.
• O trauma pode “ligar” vulnerabilidades genéticas que estavam adormecidas.
• E, mesmo sem genes de risco, traumas muito fortes podem deixar marcas profundas.
• O contrário também é verdade: algumas pessoas com grande predisposição genética podem nunca adoecer se tiverem uma vida sem grandes adversidades.

Estudos recentes mostram precisamente isso: quando se combinam trauma e risco genético, o risco de adoecer é maior do que a soma das duas partes. (Alameda et al., 2024; Daníelsdóttir et al., 2024).

Referências:
• Alameda, L., et al. (2024). Polygenic risk scores moderate the impact of childhood adversity on affective and psychotic disorders. Translational Psychiatry, 14(1), 135. https://doi.org/10.1038/s41398-024-03064-0
• Bremner, J. D., et al. (2020). Environmental versus genetic contributions to reduced hippocampal volume in PTSD: A co-twin control study. Biological Psychiatry, 87(12), 1069–1076. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2019.12.001
• Brown, R. C., et al. (2014). Trauma exposure and Axis I psychopathology: A co-twin control study. Journal of Psychiatric Research, 53, 83–90. https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2014.02.010
• Cath, D. C., et al. (2008). Environmental factors in obsessive-compulsive behavior: A co-twin control study. Twin Research and Human Genetics, 11(2), 174–183. https://doi.org/10.1375/twin.11.2.174
• Daníelsdóttir, H. B., et al. (2024). Adverse childhood experiences and adult mental health: A genetically informed twin study. JAMA Psychiatry, 81(4), 329–338. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2024.0214
• Gilbertson, M. W., et al. (2002). Smaller hippocampal volume predicts pathologic vulnerability to psychological trauma. Nature Neuroscience, 5(11), 1242–1247. https://doi.org/10.1038/nn958
• McDonald-McGinn, D. M., et al. (2015). 22q11.2 deletion syndrome. Nature Reviews Disease Primers, 1, 15071. https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.71
• Mullins, N., et al. (2016). Polygenic interactions with environmental adversity in the onset of major depression. JAMA Psychiatry, 73(7), 738–744. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2016.1113
• Ouellet-Morin, I., et al. (2011). Reduced cortisol reactivity to stress in female twins exposed

🌱 O que é o Paradigma da Psicopatologia do Desenvolvimento? (Kochanska & An, 2024). A psicopatologia do desenvolvimento ...
14/09/2025

🌱 O que é o Paradigma da Psicopatologia do Desenvolvimento? (Kochanska & An, 2024).

A psicopatologia do desenvolvimento é uma forma moderna de compreender a saúde mental. Em vez de ver os problemas psicológicos apenas como “doenças” isoladas, este paradigma olha para eles como parte de uma trajetória de vida — uma história que começa na concepção e continua a ser construída ao longo de todo o desenvolvimento.

🔹 Um “lar integrador” de muitas teorias

O grande valor deste paradigma é que ele funciona como um ponto de encontro para diferentes teorias da psicologia. Ideias que antes eram vistas como opostas — como as da psicanálise, do comportamento, da cognição, da etologia ou da sociologia — hoje podem conviver e dialogar dentro da psicopatologia do desenvolvimento.
Cada teoria oferece uma lente diferente para compreender a mesma realidade, e juntas ajudam-nos a ter uma visão mais completa.

🔹 Normalidade e dificuldade caminham lado a lado

Outro aspeto essencial é que este paradigma não separa radicalmente o “normal” do “patológico”.
• Estudar como as crianças crescem saudavelmente (por exemplo, como desenvolvem a vinculação ou a regulação emocional) ajuda-nos a perceber como surgem os problemas.
• E, ao mesmo tempo, olhar para as dificuldades (como ansiedade, depressão ou problemas de comportamento) ajuda-nos a entender melhor o que é um desenvolvimento típico.

Ou seja, a saúde mental e a psicopatologia fazem parte do mesmo contínuo.

🔹 Muitos caminhos possíveis

A vida não é linear.
• A mesma experiência inicial (como crescer em ambiente de stresse) pode levar a diferentes resultados: algumas crianças tornam-se ansiosas, outras agressivas, outras resilientes.
• Por outro lado, problemas semelhantes (como a depressão) podem surgir em pessoas com histórias de vida muito diferentes.

Isto mostra que não existe um destino fechado: o desenvolvimento abre sempre múltiplos caminhos.

🔹 Uma visão inclusiva e humana

No fundo, a psicopatologia do desenvolvimento é um paradigma inclusivo e esperançoso. Ele recorda-nos que:
• cada pessoa é moldada pela combinação única de biologia, experiências, relações e cultura;
• os problemas de saúde mental não são sentenças definitivas, mas trajetórias que podem mudar;
• quanto mais cedo compreendermos os processos que levam ao sofrimento, mais cedo podemos ajudar a reorientar a vida para caminhos de bem-estar.

🔹 Este paradigma exige que as intervenções sejam coerentes com os princípios desenvolvimentistas, ou seja:

• Contextualizadas (tendo em conta família, pares, cultura).
• Sensíveis à idade e etapa do desenvolvimento (o que é adaptativo numa fase pode ser desajustado noutra).
• Multinível (idealmente atuando em níveis biológicos, psicológicos e sociais em simultâneo).
• Flexíveis e integrativas (não fechadas numa única escola teórica).

🌟 Em resumo

O paradigma da psicopatologia do desenvolvimento é um modelo integrador: junta várias teorias, une normalidade e psicopatologia, e vê a saúde mental como um processo em movimento ao longo da vida. Mais do que dar nomes a doenças, procura compreender como as histórias se formam e como podemos transformá-las.

📚 Referência

Kochanska, G., & An, D. (2024). Developmental psychopathology: Our welcoming, inclusive, and eclectic intellectual home. Development and Psychopathology, 36(5), 1583–1594. https://doi.org/10.1017/S0954579424000075

Obrigado à minha querida Professora Universitária Maria João Beja Maria Joao Beja, por tanto me ter ensinado acerca do desenvolvimento humano. Foi a cadeira mais importante que tive no meu percurso académico. ❤️ Este paradigma é a base que sustenta toda a minha prática clínica.

➡️Uma vez iniciadas, as Guerras nunca terminam. Passam a existir, para sempre, dentro de quem as viveu. Mas dessa Guerra...
24/08/2025

➡️Uma vez iniciadas, as Guerras nunca terminam. Passam a existir, para sempre, dentro de quem as viveu. Mas dessa Guerra interna, dificilmente se ouvirá falar.

O trauma de guerra pode manifestar-se de inúmeras formas, afetando corpo, mente e relações.

✔️Entre os sintomas psicológicos mais comuns estão a revivência traumática (flashbacks, pesadelos), a hiperexcitação (insónia, irritabilidade, sobressaltos), a evitação de estímulos associados à guerra, bem como sentimentos de culpa, vergonha, tristeza profunda e desesperança (American Psychiatric Association, 2022; Yehuda & Lehrner, 2018).
Frequentemente surgem ainda ansiedade generalizada, depressão, dissociação, ideação suicida e abuso de substâncias (Bonanno et al., 2012; Steel et al., 2009).
✔️No domínio neurocognitivo, são frequentes as dificuldades de concentração, défices de memória e perturbações do pensamento, que podem comprometer a vida académica, laboral e social (Brewin et al., 2010).
✔️Do ponto de vista somático, o trauma de guerra associa-se a dores crónicas, cefaleias, problemas gastrointestinais, doenças cardiovasculares, alterações do sono, fadiga persistente e inflamação crónica de baixo grau (Boscarino, 2012; Pace & Heim, 2011).
✔️No plano social e relacional, é frequente o isolamento, a dificuldade em confiar nos outros, a agressividade, os conflitos familiares e o distanciamento afetivo (Herman, 2015; Schauer & Elbert, 2010).

Em suma, a guerra, mesmo quando termina no campo de batalha, continua muitas vezes a travar-se silenciosamente dentro de cada sobrevivente.

Referências
• American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.; DSM-5-TR). American Psychiatric Publishing.
• Bonanno, G. A., Westphal, M., & Mancini, A. D. (2012). Resilience to loss and potential trauma. Annual Review of Clinical Psychology, 7(1), 511–535. https://doi.org/10.1146/annurev-clinpsy-032210-104526
• Boscarino, J. A. (2012). Posttraumatic stress disorder and physical illness: Results from clinical and epidemiologic studies. Annals of the New York Academy of Sciences, 1032(1), 141–153. https://doi.org/10.1196/annals.1314.011
• Brewin, C. R., Gregory, J. D., Lipton, M., & Burgess, N. (2010). Intrusive images in psychological disorders: Characteristics, neural mechanisms, and treatment implications. Psychological Review, 117(1), 210–232. https://doi.org/10.1037/a0018113
• Herman, J. L. (2015). Trauma and recovery: The aftermath of violence—from domestic abuse to political terror. Basic Books.
• Pace, T. W. W., & Heim, C. M. (2011). A short review on the psychoneuroimmunology of posttraumatic stress disorder: From risk factors to medical comorbidities. Brain, Behavior, and Immunity, 25(1), 6–13. https://doi.org/10.1016/j.bbi.2010.10.018
• Schauer, M., & Elbert, T. (2010). Dissociation following traumatic stress. Zeitschrift für Psychologie/Journal of Psychology, 218(2), 109–127. https://doi.org/10.1027/0044-3409/a000018
• Steel, Z., Chey, T., Silove, D., Marnane, C., Bryant, R. A., & van Ommeren, M. (2009). Association of torture and other potentially traumatic events with mental health outcomes among populations exposed to mass conflict and displacement: A systematic review and meta-analysis. JAMA, 302(5), 537–549. https://doi.org/10.1001/jama.2009.1132
• Yehuda, R., & Lehrner, A. (2018). Intergenerational transmission of trauma effects: Putative role of epigenetic mechanisms. World Psychiatry, 17(3), 243–257. https://doi.org/10.1002/wps.20568

— Diz-me, se pudesses escolher qualquer coisa no mundo, o que é que mais desejavas?— Ficar sempre com os meus pais.— E o...
23/08/2025

— Diz-me, se pudesses escolher qualquer coisa no mundo, o que é que mais desejavas?
— Ficar sempre com os meus pais.
— E o que é que mais temes?
— Perdê-los… perder os meus pais.

Observação: entenda-se por pais qualquer pessoa que desempenhe a função de prestar segurança à criança, de forma continuada e significativa, ao longo do seu desenvolvimento

Assinado por todas as crianças deste mundo, incluindo aquelas que habitam dentro das pessoas crescidas

16/08/2025

Este é, sem dúvida, um dos filmes da minha vida. Sempre gostei desta cena final, porque desde criança ela me tocou profundamente. Sempre me identifiquei com a Ellie, sobretudo pela sua determinação, pelo amor à ciência e pela busca de respostas, mas também porque esta cena me confronta com algo maior do que a própria ciência. Desde a primeira vez que vi esta cena, fui conduzido a refletir sobre o que significa ser-se humano, ser-se pessoa, sobre o valor da experiência e sobre a busca incessante sobre quem somos nós, o que é a a realidade e a vida.

O filme “Contact” de 1997, baseado na obra de Carl Sagan, acompanha a cientista Ellie Arroway, (interpretada pela grandiosa Jodie Foster) dedicada à busca por vida extraterrestre através do projeto SETI. Após anos de ceticismo e cortes de financiamento, ela finalmente capta um sinal vindo da estrela Vega: uma transmissão codificada com instruções para construir uma máquina enigmática. Entre disputas políticas e científicas, a máquina é construída, e Ellie é escolhida para embarcar na experiência. O que segue é uma viagem misteriosa através de portais cósmicos, culminando no encontro com uma entidade que lhe aparece na forma do seu pai falecido. Para Ellie, trata-se de uma prova íntima e transformadora de que não estamos sozinhos no universo. Na perspectiva dela passaram-se muitas horas de experiência pelo cosmos e numa praia com um pai extraterrestre à beira de uma galáxia distante. Mas, quando regressa à Terra, todos os registos técnicos mostram que a cápsula nunca chegou a sair do lugar: aparentemente caiu quase de imediato. Para os observadores externos, não houve viagem alguma. Ellie então é chamada a uma audiência pública, onde é confrontada por políticos, cientistas e autoridades, e tem de responder a uma série de perguntas duras. O problema é que ela não tem nenhuma prova física da experiência — apenas o seu testemunho. Isso gera um dilema central do filme: a fronteira entre ciência, fé e experiência subjetiva.

Esta cena é muito poderosa porque coloca a questão: até que ponto precisamos de provas externas para validar uma experiência interna? E até que ponto a experiência humana pode ultrapassar os limites do método científico?

Ela também nos convida a refletir sobre o que é afinal a realidade, e sobre o próprio ser humano: como podemos ser tão complexos e, ao mesmo tempo, tão frágeis; tão importantes, mas também insignificantes; tão grandes e tão pequenos. No fundo, esta cena lembra-nos a relativização da vida e da realidade — e o mistério que ambas carregam.

E, por fim, desperta outras questões maiores: quem somos nós, realmente? Qual é a nossa verdadeira origem? Qual o papel de Deus em tudo isto? Temos um pai e uma mãe que não são apenas os nossos pais da Terra, mas um Criador que nos deu existência. Se a humanidade foi criada, quem nos criou? De onde viemos? Qual é o mistério primeiro que nos sustenta?

A realidade é feita do entrelaçar das verdades de cada um; respeitar a experiência singular é reconhecer que o todo humano se constrói numa diversidade de muitas verdades.

Nao sabemos nada sobre Nós e sobre a Casa onde vivemos.

♥️ um abraço e obrigado a todos aqueles que me têm acarinhado nestes últimos tempos.

Virgílio Baltasar

Endereço

Vila Real De Santo António
8900-211

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