07/23/2025
🦭 // Svalbard, Ártico • 78° N
[part.4] • morsas
[Odobenus Rosmarus] •
aquele que anda com os dentes
Entre as praias de pedras frias do Ártico e as águas geladas, vivem criaturas ancestrais, de carne espessa e alma coletiva.
Imensas, solenes, cobertas por um manto de gordura que desafia o frio, o blubber, elas deslizam com lentidão de quem sabe que o tempo, ali, é outro.
E dos seus rostos enrugados erguem-se os tusks, dois longos dentes de marfim que servem como âncora para se arrastarem sobre o gelo, defesa e ritual.
Mas apesar da força bruta, são feitas de afeto.
Não suportam o isolamento.
Dormem amontoadas, pele contra pele, como se o frio só pudesse ser vencido junto.
Se o urso polar é o solitário do gelo, a morsa é a comunidade.
E numa cena à la National Geographic, um bando jovem e curioso nadou até perto, quase até a linha onde o mar nos separava.
Espiavam entre respirações profundas, como quem br**ca de se aproximar sem ser pego.
Pareciam crianças desconfiadas e atrevidas.
Os olhos, vermelhos.
Rubros de tanto sangue bombeado ao rosto para aquecer o frio das águas profundas.
Olhos que, aos nossos olhos humanos, podiam parecer assustadores, mas carregavam apenas o espanto de quem também nos via como mistério.
E ali fiquei eu.
Pequena diante daquelas montanhas vivas com o coração batendo como o delas, acelerado, curioso, dividido entre medo e fascínio.
Elas emitem um som grave, quase metálico,
como um canto vindo de dentro da Terra.
E por um instante o tempo parou,
como se o Ártico respirasse conosco.
…