Nataly Martinelli

Por trás da raivaNa sorveteria, minha cachorrinha, curiosa, foi cheirar o pé de um senhor na mesa ao lado. Ele se irrito...
22/08/2025

Por trás da raiva

Na sorveteria, minha cachorrinha, curiosa, foi cheirar o pé de um senhor na mesa ao lado. Ele se irritou, a tensão se instalou, e eu mudei de mesa pedindo desculpas. Mas percebi que a mulher continuava me lançando olhares pesados.

Foi então que me levantei novamente — não para discutir, mas para deixar uma mensagem:
“Um sorriso sempre cabe. A vida é breve demais.”

Na saída, o senhor que antes estava tão bravo me acenou com um sorriso generoso. Já a mulher saiu ainda prisioneira de seu desgosto.

Dias depois, presenciei outra cena: no trânsito, um homem desceu furioso do carro para brigar com quem o havia fechado, sem perceber que não havia intenção de ofensa.

Essas duas situações me fizeram pensar. A raiva raramente nasce do fato em si, mas do que ele desperta dentro de nós. Por trás da fúria, quase sempre, está a sensação de inferioridade ou de injustiça. Quando o ego se sente ferido, reage como um grito silencioso: “Eu importo, não me trate como menos.”

O que verdadeiramente desarma não é a disputa, mas o reconhecimento. Um pedido de desculpas, um gesto de empatia ou até um sorriso podem dissolver tensões e abrir espaço para algo mais leve.

Naquele dia, ao pronunciar aquela frase, não falava apenas com aquele casal — falava com a própria vida. Era a escolha de não alimentar o ciclo da raiva, mas de oferecer um lembrete de humanidade. Talvez eles nunca se recordem, mas a semente ficou.

🌿 A raiva, no fundo, é um pedido de cuidado.
E a maior coragem não é revidar, mas reconhecer que toda fúria guarda uma fragilidade escondida.

Estava lendo o livro italiano “Di troppa (o poca) famiglia” quando uma frase me atravessou:“Quem corre mais risco de pag...
19/08/2025

Estava lendo o livro italiano “Di troppa (o poca) famiglia” quando uma frase me atravessou:

“Quem corre mais risco de pagar pelos nossos problemas não resolvidos é o nosso parceiro, atraído pelo anzol da nossa dependência emocional.”

Quantas vezes buscamos no outro aquilo que nos faltou na infância?
O colo que não tivemos, a validação que não recebemos, a segurança que nunca aprendemos a criar dentro de nós.

Sem perceber, transformamos o relacionamento em uma arena de cobranças, onde o parceiro deixa de ser companheiro para virar “cuidador emocional”.
E assim, o amor deixa de fluir para virar peso.

A verdade é dura, mas libertadora: nenhum amor adulto sobrevive sustentando feridas infantis que não ousamos encarar. Quanto mais depositamos no outro a missão de nos salvar, mais o vínculo adoece.

Amar de forma madura não é egoísmo. É cuidar das próprias dores para liberar o parceiro do fardo de ser remédio daquilo que só nós podemos curar.

Como lembra a autora, todo casal saudável precisa manter a dança das polaridades: energias que se complementam, opostos que se atraem. Quando ambos trazem a mesma energia — frágil, carente, dependente — a relação implode e a sexualidade se apaga.

Amor adulto não nasce do vazio que pedimos ao outro preencher. Ele floresce quando cada um se encontra inteiro, assume suas feridas e, só então, soma.

Enquanto não revisitamos nossas feridas infantis, estaremos condenados a transformá-las em roteiro oculto dos nossos amores.


O peso de assumir tudo“Assumir tudo” muitas vezes é uma defesa inconsciente contra o medo de perder o controle — mas o p...
12/08/2025

O peso de assumir tudo

“Assumir tudo” muitas vezes é uma defesa inconsciente contra o medo de perder o controle — mas o paradoxo é que, quanto mais assume, mais perde.
O que parece força, competência ou amor, no fundo, nasce de um receio silencioso: o de que, se soltar uma parte, tudo desmorone. É como se a sua presença em cada detalhe fosse o único pilar que mantém o mundo de pé.

Para manter essa sensação de segurança, o ego constrói uma armadura. Cada tarefa cumprida, cada prazo controlado, cada tentativa de prever o imprevisto se torna mais um tijolo nessa fortaleza interna. E, enquanto ela parece proteger, na verdade aprisiona. Quem vigia tudo acaba preso junto com aquilo que tenta salvar.

É aí que o paradoxo se manifesta: quanto mais você tenta segurar, mais o peso se acumula; quanto mais se expande para conter o mundo, mais o mundo escapa pelas frestas dos seus dedos. E, no esforço de preservar o controle, você descobre que é ele que está se dissolvendo.

O corpo percebe primeiro: ombros que pesam, respiração curta, cansaço que não passa nem com descanso. A mente, em constante estado de alerta, confunde ocupação com avanço, e o eu, sobrecarregado, começa a desaparecer sob a máscara de quem “dá conta de tudo”.

Nesse ponto, soltar parece arriscado — mas é exatamente aí que reside a liberdade. Soltar é reconhecer que o controle absoluto é uma ilusão. É permitir que o outro exista com seus próprios ritmos, que a vida se mova sem que você precise empurrar cada engrenagem. É deixar espaço para o imprevisto sem vivê-lo como ameaça.

E o primeiro passo pode ser simples: hoje, escolha uma coisa que você sempre assumiria para si… e não assuma. Permita que seja feita de outro jeito, em outro tempo, por outra pessoa. Observe o desconforto — ele é parte do treino. Resista ao impulso de intervir — ele é o fortalecimento. Pouco a pouco, você percebe que não era o mundo que cairia, mas apenas o peso que, enfim, você decidiu deixar no chão.

A Imagem HerdadaNem sempre somos quem realmente somos.Muitas vezes, somos quem aprendemos a ser para não perder amor.Des...
07/08/2025

A Imagem Herdada

Nem sempre somos quem realmente somos.
Muitas vezes, somos quem aprendemos a ser para não perder amor.

Desde muito cedo, antes mesmo de termos consciência,
nos adaptamos ao olhar dos nossos pais.
Fomos moldados por suas palavras, seus silêncios, seus traumas não resolvidos.
Carregamos as faltas deles como se fossem nossas.
E, aos poucos, aprendemos a caber — mesmo que para isso, fosse preciso se perder.

Como uma escultura antiga, seguimos de pé, mesmo sem rosto.
Mantemos a pose. Sustentamos a forma.
Mas por dentro, faltam partes:
partes da alma que nunca puderam existir,
porque seria perigoso, vergonhoso ou “demais” ser quem éramos.

A biologia guarda tudo isso.
O corpo grita o que a psique silenciou.
A repetição de padrões, as escolhas que se repetem,
os sintomas, os relacionamentos…
Tudo isso fala da imagem que ainda carregamos dentro.

A verdadeira virada começa quando deixamos de tentar mudar os pais que tivemos —
e passamos a remodelar internamente a imagem que criamos deles.

Porque é essa imagem — cristalizada no inconsciente —
que nos aprisiona ao passado.
Que nos faz repetir a dor, buscando inconscientemente reparar, pertencer, compensar.

Desfazer esse molde não é traição.
É libertação.
É sair da repetição para, enfim, viver a própria vida.
É deixar de ser a continuação da história dos outros,
para se tornar autor da sua.

✨ Porque as crianças precisam de pais.
Mas os adultos… têm pais.
E reconhecer isso é o que permite, finalmente, tomar a própria vida nas mãos.

👉 Você ainda vive a imagem herdada… ou já começou a esculpir a sua própria?

O que de você atravessará o tempo?Preta Gil partiu. Mas antes de partir, fez o que poucos ousam: tomou de volta a própri...
21/07/2025

O que de você atravessará o tempo?

Preta Gil partiu. Mas antes de partir, fez o que poucos ousam: tomou de volta a própria história.
Enquanto o tempo ainda permitia, ela se reescreveu — não para ser perfeita, mas para ser inteira.
Para assumir quem foi, sem corte, sem disfarce.

Foi uma história humana.
Feita de amores sem contenção, dores sem maquiagem, reconciliações que não apagaram o passado — mas lhe deram outro peso.
Porque não se trata de apagar o que fomos, e sim de olhar para isso com a dignidade de quem não quer partir sem se reconhecer.

Preta entendeu cedo que o tempo não é um direito — é um empréstimo breve.
E que quem não se escreve por dentro será, cedo ou tarde, escrito pelas mãos dos outros.
Biografias feitas de fora distorcem quem nunca teve coragem de narrar o próprio nome.

Ela não romantizou a morte.
Mas não permitiu que ela chegasse antes de dizer o que precisava ser dito.

Sua partida não é só ausência — é um aviso:
Quantas versões de você continuam interditadas porque falta coragem de habitá-las?
Quantas páginas seguem intocadas porque você ainda espera um tempo ideal que nunca virá?

Preta se foi.
Mas o que escreveu — em livro, em música, em afeto — permanece.

E você?
Se o tempo acabasse hoje, o que de você sobreviveria ao esquecimento?
O que seria forte o bastante para permanecer — sem que alguém precise explicar quem você tentou ser?

O tempo não espera.
Ou você escreve sua história — ou será escrito pelas circunstâncias.
E o mundo, você sabe, não costuma contar direito o que a gente não teve coragem de viver.






# NatalyMartinelli

Quando o bem nos encontra, sem avisar.Essa semana, algo inacreditável aconteceu com a minha família.Estávamos jantando e...
10/07/2025

Quando o bem nos encontra, sem avisar.

Essa semana, algo inacreditável aconteceu com a minha família.
Estávamos jantando em um restaurante que adoramos aqui em Londres — o Ceru, em South Kensington (f**a a dica 💛).

Na mesa ao lado, um homem jantava com três crianças. Não trocamos uma palavra. Apenas dividimos o espaço… e, sem saber, algo muito maior.

Quando ele se levantou e foi embora, a dona do restaurante veio até nós, visivelmente surpresa:
— Vocês não precisam pagar. Ele já cuidou de tudo.

Perguntei o motivo. A resposta foi como um sussurro do universo:
— Ele disse que queria ajudar uma família jovem que tem tudo para florescer.

E ali, num simples gesto, senti algo profundo se mover.
Na perspectiva sistêmica, gestos assim restauram o fluxo interrompido da vida. Como se algo antigo, lá dentro, enfim ganhasse paz.

Quando alguém oferece sem esperar retorno, algo se reordena — e uma corrente de abundância se acende, atravessando o visível e tocando o essencial.
✨Na dimensão espiritual, acredito que há momentos em que somos encontrados por uma força amorosa que sabe exatamente do que precisamos — mesmo quando nós mesmos não sabemos.

A generosidade verdadeira não faz alarde. Ela planta esperança em silêncio. E nos relembra que o bem existe, que há olhos que veem além, e que há gestos que abençoam — mesmo que venham de desconhecidos.

Desde então, algo em mim repousou. Como se a vida sussurrasse que há forças amorosas agindo além do que podemos ver.

Se essa história tocou você, talvez hoje seja um bom dia para surpreender alguém — com um gesto que não espera resposta, mas que pode mudar o dia… ou a vida.

Você ainda lembra quem era antes de tentar caber?Outro dia, conversando com meus pais, algo voltou.Não como lembrança, m...
01/07/2025

Você ainda lembra quem era antes de tentar caber?

Outro dia, conversando com meus pais, algo voltou.
Não como lembrança, mas como presença.
Eu tinha uns cinco anos. Tocava numa bandinha infantil.
No fim do ano, nos apresentamos num grande teatro.
A música terminou. As crianças pararam. Menos eu.

Continuei dançando. Tocando.
O corpo seguiu — como se obedecesse a outra lei.
Uma que não vinha do ensaio,
mas da alma.

Lembro dos olhares na plateia — surpresos, emocionados.
As palmas não foram só pela música. Foram pela liberdade.
Por aquela criança que ainda não sabia se conter —
e por isso, revelava o que muitos haviam esquecido sentir.

Hoje, quando começo a me moldar demais…
a caber onde não pertenço,
a suavizar o passo, a silenciar o brilho, a sorrir só com a boca,
eu volto pra ela.

Pra aquela menina que seguia dançando mesmo quando tudo já tinha silenciado.
Que não conhecia o medo de ser demais.
Que existia inteira, sem precisar se explicar.

Me vem Clarice Lispector, como um sussurro:
“Eu escrevo como quem segura no escuro a mão de uma criança.”
E eu entendo.

Viver, amar, criar — tudo isso é retorno.
É reencontro com a mão que um dia foi solta.
A nossa.

Resgatar a criança não é ir para trás.
É voltar ao centro.
É abrir espaço, de novo, para o que sempre foi verdade, antes do mundo nos pedir contenção.

Feche os olhos um instante.
Qual cena da sua infância ainda vibra dentro?
Qual gesto ficou suspenso no tempo, esperando ser acolhido?

Deixe que ela volte.
Não para reviver o que foi,
mas para lembrar quem você é.

Aquilo que em você era mais livre…
não desapareceu.
Só se recolheu —
à espera do instante em que você voltasse para buscá-lo.


Dica de Filme — Fé para o ImpossívelO que mais me atravessou nesse filme não foi apenas o poder da fé, mas tudo o que el...
27/06/2025

Dica de Filme — Fé para o Impossível

O que mais me atravessou nesse filme não foi apenas o poder da fé, mas tudo o que ela precisou enfrentar antes de florescer.

A confiança foi posta à prova.
As certezas ruíram.
E o que parecia injusto — a queda de uma mulher generosa, mãe amorosa, devota — acabou se revelando uma travessia.

Porque há dores que vêm para abrir caminhos antes interditados.

No filme, a internação da mãe não é apenas uma crise. É uma reordenação do amor. Uma chance de reaproximação entre pai e filhos. E, acima de tudo, entre o pai e ele mesmo.

Ele, que sempre esteve no controle, precisa, pela primeira vez, acolher o imprevisível.
Abrir mão da rigidez.
Entrar no território da presença
onde não há manuais, só vulnerabilidade.

E é ali, sem garantias, que ele encontra seus filhos. Não como autoridade, mas como ser humano.

Esse encontro só se torna possível porque a ausência da esposa escancara um vazio antigo, um espaço que ele jamais havia habitado por inteiro.

E talvez esse seja um dos sentidos mais sutis da vida:
certas experiências acontecem para nos lembrar de algo essencial que esquecemos de tocar.

Para despertar o que ficou adormecido. Para revelar o que só emerge quando tudo o resto falha.

Se você já se perguntou por que dores tão grandes recaem sobre pessoas tão boas,
esse filme pode ser um espelho. Não um espelho que explica, mas um que revela.

E, talvez, ao final, a pergunta já não seja mais “por que isso aconteceu?”, mas sim “o que isso me mostrou que eu ainda não via?”

Ansiedade Silenciosa: quando o emocional se esconde atrás da rotinaA ansiedade nem sempre se manifesta em cenas dramátic...
18/06/2025

Ansiedade Silenciosa: quando o emocional se esconde atrás da rotina

A ansiedade nem sempre se manifesta em cenas dramáticas. Muitas vezes, ela sussurra. Se disfarça de pressa, se camufla em hábitos comuns — e, mesmo assim, corrói por dentro. Ao contrário do que se imagina, nem toda ansiedade se revela em crises de pânico ou falta de ar. Existe uma forma mais sutil, porém igualmente exaustiva: a ansiedade silenciosa.

Na minha participação para a revista AnaMaria, falei sobre como esse tipo de sofrimento psíquico pode se infiltrar no cotidiano com aparência de normalidade. Ela veste a máscara da hiperprodutividade, do perfeccionismo, da dificuldade crônica de relaxar. É justamente essa “eficiência emocionalmente cara” que dificulta seu reconhecimento. O corpo pede pausa, mas a mente exige movimento constante. E esse desalinho adoece.

Na entrevista, compartilhei: “em muitos casos, a ansiedade se instala silenciosamente, como quem aprende a habitar o corpo sem ser notada”. Quando não nomeamos o que sentimos, seguimos em modo automático — e o sofrimento, mesmo calado, encontra brechas para se expressar.

🧠 Essa ansiedade oculta pode se manifestar de formas discretas: roer unhas sem perceber, insônia disfarçada de “criatividade noturna”, culpa ao descansar, uma mente que nunca desacelera. São sintomas invisíveis aos olhos, mas intensos para quem sente.

Por isso, precisamos cultivar uma escuta mais profunda de nós mesmos. A saúde mental mora nos detalhes, e a capacidade de reconhecer os próprios sinais é uma forma de inteligência emocional — e de amor-próprio. Acolher o que antes era negado, dar nome ao que apenas doía: isso é cuidado.

✨ Transformar o desconforto em clareza é um gesto de coragem emocional.


Alguns filmes não passam.Eles permanecem.Não pela história que contam,mas pela verdade que despertam.The Hill é um desse...
29/05/2025

Alguns filmes não passam.
Eles permanecem.
Não pela história que contam,
mas pela verdade que despertam.

The Hill é um desses.
Não é apenas sobre beisebol.
É sobre fé — e as dores que ela precisa atravessar até se tornar vivida.

É sobre um pai, pastor, que pregava sobre acreditar…
mas que, ao se deparar com o sonho do próprio filho, deixou-se guiar pelo medo.
Temia que ele fosse longe demais.
Temia que não resistisse.
Tentou conter — como se amor fosse proteger do voo, não fortalecer as asas.

E é sobre um filho que foi.
Mesmo sem a bênção,
mesmo sem garantia de que daria certo.
Não por rebeldia.
Mas porque há sonhos que, se não forem vividos, se tornam feridas herdadas.
E ele não queria passar adiante a dor de não ter tentado.

Rick não buscava provar nada.
Só não podia mais caber no limite do que esperavam dele.
Ele precisava ir — para não se perder de si.

E quando o pai finalmente o enxerga —
não como alguém frágil,
mas como alguém inteiro —
algo se rompe.
E algo se transforma.

O pai não perde sua autoridade.
Pelo contrário.
Ele reencontra a fé que sempre pregou,
mas que só agora, através do filho, aprende a sentir.

The Hill é sobre isso.
Sobre os filhos que não desafiam — libertam.
Sobre os pais que não perdem espaço — ganham presença.
Sobre quando o amor deixa de ser controle e vira confiança.
Sobre o instante em que o filho se torna espelho,
o pai se torna aprendiz,
e o vínculo…
finalmente se transforma em fé vivida.

“O mindfulness transformou 100% minha vida.”“Sou outra pessoa desde que comecei a prática.”Eu já escutei essas frases.E ...
22/05/2025

“O mindfulness transformou 100% minha vida.”
“Sou outra pessoa desde que comecei a prática.”

Eu já escutei essas frases.
E talvez você também.

Mas sempre que ouço algo assim, uma pergunta me atravessa:
Será que foi o mindfulness em si…
ou o instante — que a prática tornou possível —
em que a pessoa, enfim, se encontrou consigo mesma?

Porque quando uma técnica vira dogma,
ela deixa de ser ferramenta —
e passa a ocupar um lugar de identidade.

Às vezes, sem perceber, começamos a medir os outros por ela.
A explicar tudo a partir dela.
A esquecer que o que nos tocou…
não foi o nome do método.
Mas o espaço que ele abriu por dentro.

Foi o momento de pausa.
De escuta.
De presença real com algo que talvez estivesse sufocado há anos.

E, muitas vezes, o que aquela prática ofereceu —
acolhimento, previsibilidade, permissão para sentir —
se parece com algo que, lá atrás,
a pessoa buscava…
e desejava que tivesse vindo de um pai. Ou de uma mãe.

Sem perceber, o método começa a ocupar esse lugar simbólico.
E o apego não é só à prática —
mas à experiência de amparo que ela representou.

É claro que práticas podem nos ajudar a acessar esse lugar.
Mas quando viram a única via, quando ganham status de salvação,
corremos o risco de perder algo essencial:
a humildade diante do mistério que é ser humano.

A prática pode ter nos levado até a porta.
Mas foi você quem escolheu atravessar.

E isso…
não dá pra terceirizar.

Algumas pessoas cuidam de bonecas como se fossem bebês.Outras cuidam de adultos como se fossem crianças.E há quem cuide ...
20/05/2025

Algumas pessoas cuidam de bonecas como se fossem bebês.
Outras cuidam de adultos como se fossem crianças.
E há quem cuide de todo mundo… menos de si.

O bebê reborn não é apenas uma boneca.
Às vezes, é uma história que encontrou abrigo no silêncio.
Uma tentativa de embalar o que não pôde ser vivido.
Um gesto de ternura sobre ausências que ainda doem.

Pode ser o filho que não veio.
A criança que a pessoa foi — e ninguém viu.
Ou o desejo de manter vivo um vínculo interrompido.

Freud dizia que o desejo não desaparece — ele muda de lugar.
E quando não pode ser dito, encontra outras formas de se manifestar.
Cuidar pode ser uma dessas formas.
Nem sempre exagero. Às vezes, linguagem.

Não se trata de certo ou errado, fantasia ou loucura.
Trata-se de escuta.
De reconhecer que, muitas vezes, o cuidado excessivo é também um pedido de acolhimento — silencioso, simbólico, legítimo.

Às vezes, o bebê reborn não é o centro da história, mas o espelho.
Aquilo que nos ajuda a olhar com mais cuidado para o que ainda pulsa.

E você? Já cuidou de algo fora de você… só para não esquecer quem é por dentro?

Endereço

Rua David Carneiro, 289
Curitiba
80530-070

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