
22/08/2025
Por trás da raiva
Na sorveteria, minha cachorrinha, curiosa, foi cheirar o pé de um senhor na mesa ao lado. Ele se irritou, a tensão se instalou, e eu mudei de mesa pedindo desculpas. Mas percebi que a mulher continuava me lançando olhares pesados.
Foi então que me levantei novamente — não para discutir, mas para deixar uma mensagem:
“Um sorriso sempre cabe. A vida é breve demais.”
Na saída, o senhor que antes estava tão bravo me acenou com um sorriso generoso. Já a mulher saiu ainda prisioneira de seu desgosto.
Dias depois, presenciei outra cena: no trânsito, um homem desceu furioso do carro para brigar com quem o havia fechado, sem perceber que não havia intenção de ofensa.
Essas duas situações me fizeram pensar. A raiva raramente nasce do fato em si, mas do que ele desperta dentro de nós. Por trás da fúria, quase sempre, está a sensação de inferioridade ou de injustiça. Quando o ego se sente ferido, reage como um grito silencioso: “Eu importo, não me trate como menos.”
O que verdadeiramente desarma não é a disputa, mas o reconhecimento. Um pedido de desculpas, um gesto de empatia ou até um sorriso podem dissolver tensões e abrir espaço para algo mais leve.
Naquele dia, ao pronunciar aquela frase, não falava apenas com aquele casal — falava com a própria vida. Era a escolha de não alimentar o ciclo da raiva, mas de oferecer um lembrete de humanidade. Talvez eles nunca se recordem, mas a semente ficou.
🌿 A raiva, no fundo, é um pedido de cuidado.
E a maior coragem não é revidar, mas reconhecer que toda fúria guarda uma fragilidade escondida.