
21/07/2025
O que de você atravessará o tempo?
Preta Gil partiu. Mas antes de partir, fez o que poucos ousam: tomou de volta a própria história.
Enquanto o tempo ainda permitia, ela se reescreveu — não para ser perfeita, mas para ser inteira.
Para assumir quem foi, sem corte, sem disfarce.
Foi uma história humana.
Feita de amores sem contenção, dores sem maquiagem, reconciliações que não apagaram o passado — mas lhe deram outro peso.
Porque não se trata de apagar o que fomos, e sim de olhar para isso com a dignidade de quem não quer partir sem se reconhecer.
Preta entendeu cedo que o tempo não é um direito — é um empréstimo breve.
E que quem não se escreve por dentro será, cedo ou tarde, escrito pelas mãos dos outros.
Biografias feitas de fora distorcem quem nunca teve coragem de narrar o próprio nome.
Ela não romantizou a morte.
Mas não permitiu que ela chegasse antes de dizer o que precisava ser dito.
Sua partida não é só ausência — é um aviso:
Quantas versões de você continuam interditadas porque falta coragem de habitá-las?
Quantas páginas seguem intocadas porque você ainda espera um tempo ideal que nunca virá?
Preta se foi.
Mas o que escreveu — em livro, em música, em afeto — permanece.
E você?
Se o tempo acabasse hoje, o que de você sobreviveria ao esquecimento?
O que seria forte o bastante para permanecer — sem que alguém precise explicar quem você tentou ser?
O tempo não espera.
Ou você escreve sua história — ou será escrito pelas circunstâncias.
E o mundo, você sabe, não costuma contar direito o que a gente não teve coragem de viver.
# NatalyMartinelli