29/06/2015
Câncer: exames essenciais para o diagnóstico precoce
Quanto antes os tumores são identificados, melhor o resultado do tratamento
Obter um diagnóstico precoce de câncer é algo essencial para iniciar um tratamento rapidamente, aumentando as chances de sucesso do tratamento e recuperação da doença. "A realização de exames em si não é capaz de prevenir o aparecimento de um câncer, mas é capaz de identificar um tumor numa fase tão inicial que pode ser encarada como uma medida preventiva, uma vez que reduzem as chances de complicações e de morte pela doença", aponta o oncologista Tiago Biachi, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A melhor forma de garantir o diagnóstico na fase inicial de um câncer é investir nesses exames chamados de preventivos e de rastreamento. A seguir, especialistas apontam as recomendações de rastreamento para os tipos de câncer mais incidentes na população brasileira. Confira:
Mamografia e ultrassonografia mamária
A mamografia é o exame oficial para diagnóstico do câncer de mama. A recomendação de órgãos como o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e a Sociedade Americana do Câncer é de que a mamografia seja feita anualmente a partir do 40 anos. "Essa diretriz é válida para mulheres assintomáticas e que não apresentam histórico familiar da doença ou alterações em exames anteriores", explica a mastologista Vilmar Marques, da Sociedade Brasileira de Mastologia. Essa faixa etária foi escolhida porque as mulheres entre 40 e 69 anos são as principais vítimas da doença, uma vez que a exposição ao hormônio estrógeno (principal causador dos tumores) está no auge com a chegada dessa idade. A partir dos 50 anos, particularmente, os riscos entram em uma curva ascendente.
Já para mulheres que possuem casos de câncer de mama na família, a mamografia deve começar a ser feita 10 anos antes do caso mais precoce entre as parentas que tiveram a doença. Por exemplo: se uma mulher descobriu um câncer de mama aos 40 anos, sua filha ou irmãs devem começar a fazer mamografias anualmente aos 30 anos. "Pacientes que apresentaram alguma alteração em exames de imagem anteriores classificadas como provavelmente benignas devem fazer um controle a cada seis meses no primeiro ano e depois anual por dois anos, caso não haja alteração", diz a especialista.
A mamografia só pode ser feita a partir dos 25 anos de idade, uma vez que a radiação pode afetar as mamas mais jovens. Por isso, adolescentes até essa idade podem optar pela ultrassonografia mamária para acompanhamento e diagnóstico de eventuais alterações nas mamas.
Colonoscopia
A colonoscopia é um exame que permite ao médico analisar o revestimento interno do intestino grosso e parte do delgado. A colonoscopia é considerada um dos principais métodos de rastreamento do câncer de cólon e reto, uma vez que consegue identificar alterações da mucosa do intestino que podem evoluir para um câncer - e o tratamento destas já reduz o risco da doença.
Segundo diretrizes da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, a colonoscopia deve começar a ser feita a partir dos 50 anos de idade para pessoas sem histórico familiar de câncer colorretal. "Aqueles que possuem fatores de risco devem incluir o exame na rotina após os 40 anos ou 10 anos antes da idade do caso mais precoce na família", completa o médico endoscopista Dalton Marques Chaves, do Fleury Medicina e Saúde. Se os exames forem normais, devem ser repetidos a cada 5 ou 10 anos. Já o resultado alterado deve ser repetido conforme orientação do médico.
Papanicolau e colposcopia
Os exames para diagnosticar HPV e câncer de colo uterino são o Papanicolau e a colposcopia. O câncer de colo do útero tem como principal causa a infecção pelo vírus HPV, por isso os exames servem para acompanhamento de ambas as doenças. Por ser um câncer que demora muitos anos para se desenvolver, os exames podem ajudar no diagnóstico precoce. Fatores como início precoce da atividade sexual, diversidade de parceiros, tabagismo e má higiene íntima podem facilitar a infecção por HPV.
Não existe uma idade certa para iniciar os exames de rastreamento do HPV e câncer de colo do útero - de maneira geral, a recomendação é iniciar os preventivos após a primeira relação sexual ou quando houver intenção de praticar o ato. Mulheres sexualmente ativas devem fazer o Papanicolau uma vez ao ano. "O objetivo é avaliar o colo uterino em busca de células alteradas para indicar a necessidade de outros exames, como colposcopia e biópsia", explica o oncologista Charles Pádua, do Cetus-Hospital Dia. Outros exames recomendados são ultrassonografia transvaginal, vulvoscopia, captura hibrida e exames de sangue. "Eles ajudam na prevenção de lesões no colo do útero, miomas, cistos nos ovários, infecções, endometriose, entre outros problemas", esclarece.
Dosagem de PSA e toque retal
Para a investigação correta do câncer de próstata, devem ser feitos os exames de toque retal e dosagem do hormônio PSA, além da análise clínica completa e eventualmente ultrassom de próstata por via retal. "No entanto, devido a resultados conflitantes em estudos publicados nos últimos anos, o rastreamento do câncer de próstata não é consenso na comunidade médica", explica o oncologista Tiago Biachi, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). De acordo com o especialista, o risco de diagnóstico de câncer de próstata durante a vida é de 16,4% e de óbito, 3,7%. "Sendo assim, a maioria dos casos de câncer de próstata não trará repercussão na vida do paciente, gerando apenas ansiedade com o diagnóstico", diz. Dessa forma, os prós e contras do rastreamento devem ser discutidos com o urologista, e variam conforme o risco da doença.
A idade para iniciar os exames também varia: para a população geral, sem fatores de alto risco, a idade indicada é a partir dos 50 anos. Naqueles com critérios de alto risco (afrodescendentes, familiares de primeiro grau que tiveram câncer de próstata antes dos 65 anos) está recomendado o rastreamento aos 45 anos.
O exame de toque e PSA devem ser feitos sempre e em conjunto, pois o toque retal nem sempre pode detectar um câncer que apresenta dosagem de PSA, assim como de 24 a 40% dos tumores não apresentam altas dosagens da proteína PSA, não sendo detectados pelo exame - mas podem ser pelo toque. "O exame de toque retal também nos dá informações adicionais sobre a próstata, mesmo que não relacionadas à doença maligna, como a hiperplasia prostática benigna." Além disso, o toque retal também possibilita encontrar pólipos e fazer retirada de pele para biópsia.