
02/07/2025
São doze anos desde que recebi minha primeira paciente, ainda durante os estágios da faculdade. Lembro-me bem dela: uma moça jovem, assustada com o que se passaria ali em seu primeiro processo terapêutico. Pergunto-me se ela desconfiava que aquele também era o início da minha trajetória, debutando no lado do terapeuta, depois de eu mesmo ter passado bons anos como paciente.
Em alguns meses, completarei uma década de exercício profissional regular no contexto clínico. Muitas mudanças desde então. Quando estava na faculdade, jamais ouvi falar de atendimento via internet. Curiosamente, não foi a pandemia que primeiramente me trouxe esse desafio. Vivendo no Canadá, onde a temperatura e as restrições causadas pela neve impossibilitam a locomoção usual, recebi as primeiras demandas por atendimentos à distância durante o inverno.
Em seguida, o COVID levou muitas vidas. De mim, levou definitivamente o atendimento presencial. Certa vez, ouvi que o consultório para um terapeuta é como o ateliê para um pintor. Não encontro definição melhor para lamentar sua ausência em minha prática atual.
De qualquer forma, mesmo virtualmente, o setting terapêutico é o local no qual me sinto útil, movido pelo desejo de questionar - nem sempre de responder. Constatação evidente para os colegas, menos óbvia para os que ainda nos procuram como uma espécie de oráculos pós-modernos. Ainda assim, é nossa tarefa desconstruir essa visão e colocar nossos pacientes como autores de suas histórias.
O privilégio de exercer minha profissão em dois países me fez perceber a universalidade de muitas dores. Até hoje, recebi pacientes de 4 a 85 anos, literalmente dos cinco continentes, e conversei com eles em quatro línguas diferentes. Em suas particularidades, notei a beleza da capacidade que cada indivíduo tem para ressignificar o vivido e seguir. Penso que isso sintetiza nosso trabalho como terapeutas: instigar a curiosidade pelo que está por vir.
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