17/04/2019
Reflexão: Angústia
No dicionário contemporâneo brasileiro, de acordo com a 2ª edição de 1953, angústia significa estreiteza, carência, falta, aperto do peito, ansiedade acompanhada de opressão e tristeza.
Bem, se a angústia é essa FALTA como nos falava Lacan, a pergunta é: o que nos falta?
A angustia é um assunto complexo e amplo, vamos apenas ressaltando alguns pontos básicos.
Segundo Lacan e seus seguidores, a base do ser humano é a angustia, matriz de todos os nossos pensamentos e sentimentos, ela não se localiza na história do sujeito, nem remete a um tempo (passado/presente), a angustia refere-se a um vazio ou insuficiência de elaboração psíquica, sem ligação com a inteligência ou falta da mesma, mas simplesmente a essa falta ou vazio e ressaltam ainda que não sabemos identificar o objeto dessa angústia.
Sabendo disso vamos identificar dois tipos de angústia: A angústia nossa de cada dia e a angustia patológica. A primeira é o ponto da nossa reflexão. A segunda, que seria a crise aguda, leva-nos a acreditar que a lição de casa que o grande filósofo Sócrates nos deixou foi menosprezada por um longo período de tempo. " UMA VIDA SEM EXAMES NÃO VALE A PENA SER VIVIDA", Sócrates falou isso por volta do século VI a.C., em seu discurso de defesa ao ser condenado a morte, preferindo a morte do que abrir mão dos seus valores.
E nós outros, como temos nos comportado na grande jornada da vida? Já nos atentamos de que a "crise aguda de angústia" ou angústia patológica, pode assinalar o início de uma psicose ou um sinal de uma despersonalização da esquizofrenia? E que, se não fizermos a lição deixada por Sócrates e se não aprendermos a lidar com essas pequeninas angústias diárias, poderemos estar caminhando na direção de um abismo como nos falou o Nietzsche? " Se olhares muito tempo para um abismo, esse abismo acabará por olhar dentro de você".
Então, para que esse abismo não nos olhe, é necessário um exame constante das nossas pequenas angústias diárias ou entraremos numa guerra de propósito.
Será que estamos fazendo a lição de casa?
Temos examinado nossos pensamentos e sentimos?
O que nos falta?
O que verdadeiramente acreditamos que somos?
Qual é a função da angústia em nossas vidas?
Existe um lado bom na angústia?
Bem, como tudo nesse mundo polarizado em que vivemos, se existe a angústia, existe o bem-estar no outro polo em potencial. Se existe a falta, no outro polo existe também a abundância em seu potencial. Só que nada disso vai se desenvolver magicamente em nossas vidas. A vida é constituída de altos e baixos é preciso coragem para encarar os seus desafios. Todos nós queremos a felicidade, mas bem poucos cogitamos a construção do casulo, queremos ser felizes sem atravessar o deserto da dor e da angústia.
Segundo Leon Denis, "a dor é uma lei, de equilíbrio e educação, que deve ser considerada como necessidade de ordem geral, agente de desenvolvimento e condição do progresso. Se suprimirdes a dor, suprimirá o que é mais belo e digno de admiração no mundo. A coragem de suporta-la".
Então precisamos desenvolver "a capacidade de suportar", o outro e a nós mesmos, aprender a conviver com nossas imperfeições! E saber que o outro não é perfeito assim como nós também ainda não estamos, mas que seremos se fizermos como Michelangelo:
"Concentra-te em ti mesmo e fazes como o escultor faz a obra que quer tornar bela. Suprimi tudo o que é supérfluo, torna claro o obscuro, difunde a luz em todos os lugares e não pares de esculpir tua própria estátua".
Somos a melhor e mais bela parte de toda a criação, não importa as falhas, o que fizemos ou deixamos de fazer, podemos recomeçar, ressignificar, mas ninguém fará isso por você. Desenvolva a CAPACIDADE DE SUPORTAR, e faça valer a pena!
Sugestão para continuação da reflexão, filme: Como estrela na terra toda criança é especial.
Livros: A doença como caminho e O Problema do ser, do destino e da dor.
Boa reflexão, Ana Morais Pereira